quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O homem por trás do documentário "Transcendent Man"


Abaixo, excelente entrevista com Barry Ptolemy, o diretor de "Transcendent Man", documentário que retrata a vida e ideias de Raymond Kurzweil (infelizmente, não está legendada). 

O entrevistador de Barry é Jason Silva, um jovem entusiasmado ligado à mídia (e com um aspecto bem latino-americano, eu diria quase brasileiro). Lembro-me que em um dos vídeos curtos no Youtube de Jason que vi há alguns anos ele era criticado por singularitários/transhumanistas mais velhos, que não gostavam de seu jeito espontâneo, de sua "apropriação das ideias" ou da imprecisão com que falava das ideias com que se empolgara (realmente Jason era meio impreciso em algumas definições, mas tinha pegado e expressava bem a ideia geral da coisa). Na época, pensei com meus botões: "Esse cara pode ser muito mais promissor em transmitir as ideias singularitárias/ transhumanistas às massas do que o estilo 'mad scientist' ou cientista maluco religioso que alguns simpatizantes mais velhos da ideia encarnam. E esses caras não percebem isso."

Acho que Jason Silva tem feito um bom trabalho de divulgação e promete ainda mais, como aponta a entrevista abaixo. E também penso que é possível que a geração de jovens adultos de Jason seja aquela em que o transhumanismo e o singularitarismo mais se alastrará em razão da crença de que "se a gente se mobilizar, dará tempo, as chances são grandes". Entre os mais muito mais velhos, é muito mais difícil pensar fora da caixa. A certa altura da vida as racionalizações e justificações da vida e do sofrimento já se cristalizaram no cérebro (isso, claro, para quem simplesmente não se contentou com o arroz com feijão da religião e do esoterismo). "Pensar fora da caixa" equivaleria a se expor à incerteza, ao risco e à ansiedade. Mas, por outro lado, seria mergulhar em uma aventura.

No Twitter, o site de Kurzweil noticiou que Transcendent Man foi lançado no iTunes no Canadá e está entre os "top ten". O lançamento para os EUA (onde o filme também está sendo exibido nos cinemas de um modo especial, com debates e participação de Kurzweil) no iTunes está previsto para primeiro de março (acho que aí poderemos, no Brasil, comprar o filme também -- mas sem legendas).

Até lá, os simpatizantes mais exigentes e dispostos a fazer o melhor uso possível da inteligência já disponível entre as orelhas podem encontrar subsídio para uma opinião crítica sobre o filme nos seguintes artigos (não é bom de inglês? Use o Google Translate e aproveite esta leitura para incrementar sua leitura e vocabulário):
    

De modo geral, pode-se dizer que estes dois artigos, inteligentes e bem escritos se complementam (a empolgação de um é compensada pelo ceticismo do outro).







Meeting of the minds with Transcendent Man director Barry Ptolemy from jason silva on Vimeo.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Presidente do Cazaquistão quer ser imortal

Presidente do Cazaquistão quer criar centro de pesquisa para atingir a imortalidade (para ele, claro).

Algo interessante sobre as crianças e os poderosos ditadores nunca contestados é a capacidade  de falar com naturalidade verdades inconvenientes, sem embaraço. O jornal britânico The Guardian, de 07 de dezembro de 2010, traz uma exemplo:

"Cleópatra pode ter banhado no leite de asnos 'para preservar sua juventude', mas Nursultan Nazarbayev, o presidente autocrático do Cazaquistão, não quer nada menos que o elixir da vida para mantê-lo no poder.

"Não satisfeito com 19 anos no comando do país rico em gás da Ásia Central, Nazarbayev exortou os cientistas de hoje a descobrirem o segredo para a imortalidade.

"O líder de 70 anos, sublinhou num discurso que um novo instituto de investigação científica na capital Astana deve estudar 'rejuvenescimento do organismo' bem como 'o genoma humano, a produção de tecidos humanos e criação de medicamentos com base em genes'.

"Dirigindo-se para estudantes, Nazarbayev acrescentou: 'Para a medicina do futuro, as pessoas da minha idade estão realmente esperando que tudo isso aconteça o mais rapidamente possível.'"


É um pouco improvável, senhor Nazarbayev, tanto que o senhor venha alcançar estas tecnologias como que seu instituto no obscuro Cazaquistão possa realizar esta façanha científica. Quer aumentar suas chances? Seria melhor contratar um plano da Alcor e fazer uma doação para o SENS (depois, é claro, de devolver o poder e as riquezas de seu país aos seus cidadãos). 

A perpetuação no poder de ditadores é um dos argumentos utilizados contra a tecnologia anti-envelhecimento. Esse, realmente, será um efeito colateral ruim mas acho difícil sustentar que, por conta de algumas dezenas de pervertidos bilhões de pessoas devam padecer. A solução terá que vir de outro lugar (a exemplo da Tunísia e Egito).

Mas o interessante na declaração de Nazarbeyev é, talvez, uma incipiente fratura nas crenças racionalizadoras sobre inevitabilidade do envelhecimento aquelas que nossa psiquê, durante seu desenvolvimento, é levada a tecer, para nos afastar da incerteza e ansiedade envolvendo o assunto e para que possamos ser bons cidadãos que reproduzem a base material e genética da sociedade. Porém, quando os sinais da plausibilidade científica do rejuvenescimento ficarem mais evidentes (indícios como este), a atual pequena fresta se abrirá com a discrição de uma barragem hidrelétrica que se rompe. E, pouco depois, como disse Michael Rose, as pessoas com 300 anos em plena saúde dirão:  "Meu Deus, como é que aqueles bárbaros aceitavam viver apenas 75 anos!"

"Um dia, quando as pessoas estiverem vivendo 300 anos e com plena saúde, comentarão: 'Meu Deus, como é que aqueles bárbaros aceitavam viver apenas 75 anos!'"

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Beija-flor robô a ser usado em espionagem


"Uma empresa da Califórnia apresentou nesta semana um novo formato de robô para espionagem: um beija-flor capaz de voar via controle remoto. O autômato deverá ser utilizado pela Agência de Defesa dos EUA.

Com controle preciso de velocidade e altura, o produto desenvolvido pela AeroVironment utiliza as suas duas asas para garantir a precisão no voo. O vídeo acima mostra uma unidade do robô ao ar livre, sendo conduzida para entrar em um prédio.

O dispositivo, que tem uma câmera para filmagem, conta com apenas 6,5 polegadas de envergadura. Não há previsão de lançamento do beija-flor-robô em escala comercial e, ao menos por enquanto, o projeto ficará restrito ao governo norte-americano." Fonte: Baixaki

 

* * *
Comentário: Do beija-flor para uma mosca é só questão de tempo. Difícil imaginar o que uma comercialização em larga escala de moscas espiãs poderia fazer com o mundo.




sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Robôs na construção civil



Dois vídeos interessantes sobre o futuro (quatrotor) e o presente (um hotel de 15 andares erguido na China em seis dias) da construção civil. Cheguei a ambos os vídeos pelo twitter de Ben Goertzel. Para quem quiser segui-lo: http://twitter.com/#!/bengoertzel.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Será que máquinas podem amar?



"FIM DE SEMANA passado, revi o clássico de ficção científica "Blade Runner: o caçador de androides", de 1982, baseado no livro de Philip Dick. O filme, dirigido por Ridley Scott e estrelado por Harrison Ford, passa-se em 2019, numa Los Angeles futurística. O enredo levanta questões sobre a relação homem e máquina que devem ser revisitadas. Pela perspectiva de 2011, a primeira coisa que notamos é como a visão de futuro do filme está errada." 

Excelente artigo de Marcelo Gleizer publicado hoje, na Folha: http://marcelogleiser.blogspot.com/2011/01/sera-que-maquinas-podem-amar.html

sábado, 29 de janeiro de 2011

Rick Warren, Uma vida de Propósitos?

O filósofo Daniel Dennett faz uma análise crítica, inteligente, acessível e divertida do best-seller "Uma vida de propósitos", do pastor Rick Warren. Novamente, a fumação dos mesmos temas: ciência, religião, significado...  e, em se tratando de TED, transhumanismo (o assunto é discretamente recorrente por lá).

Um tema repisado neste blog e que requer bastante subsídio para seu desenvolvimento é o da relação entre as ideias transhumanistas, a religião e, vamos chamar assim, o sentido ou propósito da vida, questão que geralmente vem colocada nos seguintes termos: "Se não há um Deus, como a vida pode ter sentido? Se a morte extingue nossa existência, tornando a vida um absurdo em que não vale a pena qualquer sacrifício de longo prazo, por que viver? Por que não sair por aí simplesmente matando e estuprando? "(esta última, vários religiosos já me fizeram. A resposta curta é: porque (1) você teria que ser insensível ao sofrimento alheio e (2) você iria parar na cadeia e sofreria mais)
Já fiz algumas reflexões iniciais no primeiro post (que recentemente atualizei -- sim, nfelizmente o blogger não salva todas as versões, apenas a última). Ateus (o filósofo Daniel Dennett é um) e agnósticos têm suas respostas, que basicamente podem ser resumidas no seguinte: "é melhor aceitarmos as coisas como elas são e levarmos uma vida boa, sem infernizar uns aos outros,  a ter que utilizar as fábulas religiosas, que, além da mentira em si, trazem péssimos efeitos colaterais (hipocrisia, exploração e estímulo da ignorância, fanatismo religioso, terrorismo religioso etc.)".

A maioria dos transhumanistas é composta por pessoas seculares.  Mas são, digamos, seculares insaciados,  exigentes, que querem arrancar, pela força da ciência, algo a mais da existência humana. O transhumanismo pode ser considerado melhor que o ateísmo na medida em que fornece melhores respostas às grandes questões existênciais humanas -- melhor do que simplesmente apontar o aspecto negativo e fantasioso das religiões e defender a resignação da vida como ela é. O ser humano é um irresignado por natureza.

Alternativamente, o transhumanismo oferece os mesmos produtos da religião aqui na terra, daqui a pouco, baseando-se não na explicação sobrenatural, mas na ciência e tecnologia. Mas o transhumanismo apresenta um ponto fraco em relação ao ateísmo puro: o desejo de relização desses objetivos encantadores, como o canto de uma sereia, pode perigosamente aproximar marinheiros transhumanistas dos rochedos altamente indesejáveis da religião (como a credulidade ingênua, a ausência de espírito cético e crítico e a disposição de seguir cegamente líderes), que podem, no final das contas, fazer soçobrar a nau da razão.  Claro que, quem fica em terra firme, como os ateus, nunca correrá esse risco de naufrágio. Morrerão resignados e serão enterrados no chão. Por outro lado, abdicam de toda potencialidade que a ventura marítma poderia lhes proporcionar: a infindável experimentação das especiarias orientais e a aventura no meio do caminho.

O dilema transhumanista: arriscar-se a satisfazer as necessidades fundamentais da existência humana sem despedaçar a nau da razão nos velhos rochedos religiosos.
Enfim, é assunto para muita reflexão e aqui vai um subsídio enorme para ela, do filósofo Daniel Dennett, um dos grandes nomes da filosofia mundial, cuja fala consegue escapar da característica comum das falas dos filósofos: ser mortiferamente chata e hermética. A palestra é uma reação à fala de Rick Warren no TED. Trata-se de um pastor  evangélico estadunidense que fez tremendo sucesso editorial com o livro "Uma vida de Propósitos", e foi convidado a palestrar no TED. Outro ponto para Dennett:  como bom humanista, ele pega leve com Rick Warren, reconhece tratar-se de uma pessoa bem intencionada (justiça seja feita: Warren doou inteiramente a fortuna que fez com seu livro), porém absolutamente equivocada.

Ainda sobre o assunto (religião tradicional), vale a pena citar Freud, em "O Mal Estar na Civilização":  "Tudo é tão patentemente infantil, tão estranho à realidade, que, para qualquer pessoa que manifeste uma atitude amistosa em relação à humanidade, é penoso pensar que a grande maioria dos mortais nunca será capaz de superar essa visão da vida."

Para assistir a palestra de Dennet, basta clicar no título abaixo (se acessar o site, há legendas em Pt-br): 

A reação de Daniel Dennett a Rick Warren

A gota que faltava para eu comprar uma esteira

Sentar muito pode matá-lo?
lroot em 6 de janeiro de 2011

Fonte: http://www.lifecoderx.com/can-sitting-too-much-kill-you/


 
Em um estudo com mais de 17.000 canadenses publicado em 2009 pelo Dr. PeterKatzmarzyk e seus colegas da Pennington Biomedical Research Center descobriram-se ligações entre o tempo gasto sentado e mortalidade. "As pessoas que mais se sentavam tinham aproximadamente 50% mais chances de morrer durante o período que se seguia ao estudo do que indivíduos que se sentavam o mínimo, mesmo considerando-se a mesma idade, tabagismo e níveis de atividade física ... Isso sugere que todas as coisas sendo iguais (o peso corporal, níveis de atividade física, tabagismo, ingestão de álcool, idade e sexo) a pessoa que senta-se mais tem ummaior risco de morte do que a pessoa que senta-se menos."

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Schopenhauer, um transhumanista



Publicado no site da H+ Magazine em 20 de janeiro de 2011

       A história tem muitos pensadores que já experimentaram idéias transumanistas. Pensadores como o filósofo Arthur Schopenhauer.
       Arthur Schopenhauer foi um filósofo que viveu na parte do mundo que hoje conhecemos como Alemanha entre 1788-1860, e passou a maior parte da última parte de sua vida na cidade de Frankfurt am Main.
       Apesar de conservador em suas opiniões políticas e hábitos pessoais, a filosofia de Schopenhauer soa para mim como transumanista. Isso porque ela enfatiza os aspectos negativos da condição humana e sugere como podemos escapar destas, e atingir um estado superior de ser.
       O transhumanismo de Schopenhauer é bastante diferente da visão moderna, de progresso centrado na humanidade. É negativo, enfatizando os aspectos ruins da humanidade a partir do qual devemos escapar. Schopenhauer sugere que a maneira pela qual podemos nos tornar melhor é deixar de ser seres conscientes e imergindo-nos na arte, música, ou atividades intelectuais.
       No núcleo de visão de mundo de Schopenhauer está a idéia daquele que ele nomeou seu herói intelectual, e companheiro filósofo alemão do Immanuel Kant (1724-1804). Essa idéia é a de que a consciência humana é dividida em duas áreas: a consciência comum e um elevado estado de ser que pode perceber as coisas como elas realmente são.
       Estes dois estados de consciência correspondem aos dois lados do mundo. Estes são o mundo ou representação ("Vorstellung", como Schopenhauer chamou-lhe, no original alemão) ou o mundo da vontade ("Wille"). A representação do mundo pode ser pensada como o mundo que é evidente para nós, e que percebemos através de nossos sentidos e os métodos empíricos das ciências. O mundo da vontade é o mundo como ele realmente é.
       Estes dois mundos estão relacionados, mas é um erro confundir a imagem com a coisa real, e como seres humanos, só podemos perceber as imagens, relances das sombras de uma realidade mais profunda.
       Essa idéia de vontade é uma questão complicada. Para Schopenhauer não significa Deus, ou qualquer outro tipo de consciência metafísica. A vontade é provavelmente melhor descrita como uma constante, irracional, inconsciente, sanguinário esforço por parte de tudo no universo, para ser ao invés de não ser.
       Os seres humanos têm a capacidade de se engajar no pensamento racional, que corresponde ao mundo da vontade. No entanto, também temos uma vontade subjacente de lutar e sobreviver.
       A humanidade está dividida entre uma vida de sobrevivência e reprodução, e outra do intelecto. Schopenhauer acreditava que existem maneiras de escapar do mundo do irracional se esforçando, e fugir para uma contemplação intemporal de uma realidade mais elevada.
Para Schopenhauer, um flautista afiado, os escapes foram a música e a arte. Ao perder-nos na contemplação estética, poderíamos transcender nossos eus mais básicos.
       Schopenhauer chegou a muitas das mesmas conclusões encontradas no budismo, embora tenha chegado a elas de forma independente, tendo publicado suas principais obras em 1818, enquanto as idéias da filosofia budista só foram introduzidas na Europa em 1830 e 1840.
       A filosofia de Schopenhauer mistura Platão, Kant e os Upanishads hindus para criar uma visão de mundo que consegue ser atraente e deprimente: a existência é sofrimento. É uma pancadaria infindável de dor e tédio, aliada a um esforço constante para o que não pode ser atingido. E ainda assim, há escapatória. Os seres humanos podem executar obras de arte e perder-se na arte da música, jogando o jogo, ou de fabricação.
       O que Schopenhauer entende por "perder-se" na arte-final é muito semelhante à idéia moderna de "fluxo" ("flow"), como descrita pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi. O fluxo é um estado mental de total envolvimento com uma atividade.
       Essa idéia de fluxo é irônica, já que sugere que na maioria das atividades humanas de expressão artística, não usamos as faculdades de percepção consciente mais humanas.
       Schopenhauer é geralmente retratado como o pessimista dos pessimistas, mas não posso deixar de sentir que Schopenhauer pode ser interpretado como dizendo algo profundamente otimista: mesmo que a existência consciente seja sofrimento, está ao nosso alcance nos perdermos na arte [NT: ou ciência e tecnologia!] e transcender nossas mais baixas propensões para a violência e o conflito.
       Esta é uma idéia transumanista poderosa, mas levanta questões profundas sobre a humanidade e o que é ser humano. O que exatamente é a consciência de qualquer maneira? Não perdemos nossa humanidade quando nós a rejeitamos ou nos tornamos algo diferente?
       O matemático e lógico britânico Alfred North Whitehead (1861-1947) escreveu certa vez que "a civilização avança, alargando o número de operações importantes que podemos realizar sem pensar sobre elas." Que progresso ao longo dos últimos 200 anos de industrialização tem significado apenas isso. O trabalho penoso e insano das fábricas de pino de Adam Smith foi substituído por máquinas (não em todos os lugares e em todos os casos, você diria). A humanidade como um todo não é mais "consciente" de muitas das coisas que ela produz. a atenção do homem não é necessária para muitas das atividades do dia-a-dia da civilização.
       Isso é verdade em um nível individual também. Eu acordo quando soa um alarme. Eu me desloco dirigindo um carro cujo funcionamento eu mal entendo e não tenho que conscientemente "pensar" sobre sua utilização. Acabei de fazer isso. Na verdade eu sou "consciente" de apenas uma parcela muito pequena do meu tempo. O que a consciência acrescenta à minha vida?
       Então, para voltar a Schopenhauer: talvez a consciência, como a ganância ou fome, só poderia ser outro lamaçal humano a ser retirado da estrada para a pós-humanidade. 

       Eu diria que quem reconhece a fragilidade da condição humana, e a necessidade de fuga, pode ser considerado um transumanista. Schopenhauer não poderia ter sonhado com as tecnologias emergentes que nos concedem a possibilidade de escapar, e consequentemente ele defendia uma vida ascética dedicada às artes. Talvez possamos fazer algo melhor.

Para se aprofundar:
Straw Dogs: Thoughts on Humans and Other Animals  por John N. Gray. Este livro oferece um esboço de Schopenhauer e como suas idéias equivalem a uma concepção negativista do transumanismo.

Gloom Merchant por Roger Scruton. Scruton não concorda com o que ele chama de "pessimismo global" de Schopenhauer e oferece uma opinião contrária sobre o progresso humano.

A  Enciclopédia Stanford de Filosofia tem um verbete brilhante sobre Schopenhauer e uma introdução à sua filosofia.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Elementar, meu caro IBM Watson

WATSON, ao centro, circundado de dois campeões do Jeopardy! Ele parecia estar à vontade.
 
Uma das previsões de Kurzweil feita ainda na década de 80 era a de que um supercomputador venceria o campeão mundial de xadrez em 1998. A previsão foi ridicularizada (pelo próprio Gasparov, o campeão derrotado) pois, embora computadores sejam bons em cálculo, o xadrez envolvia muito mais do que contas envolvia estratégia, sagacidade, senso de oportunidade, sendo considerado o mais intelectual dos jogos. Pois bem, Kurzweil errou por pouco: a vitória do DeepBlue ocorreu em 1997, um antes!

A notícia correu o mundo. Mas logo se ouviu a voz dos críticos: xadrez é fácil, porque é algo, assim como a música e a matemática, muito exato e envolve cálculos de modo que a força bruta dos computadores leva vantagem. 

Ok, o argumento é bom. Mas o que dizer de um jogo que envolve charadas, informações ambíguas e incompletas e pegadinhas abrangendo todo o conhecimento humano (as curiosidades)? Ou seja, algo quase oposto ao jogo de xadrez? 

Pois bem, por incrível que pareça, um novo projeto da IBM pode garantir o título de vencedor mundial do Jeopardy! (o "Show do Milhão" dos EUA) a um computador. 

E o que você e eu temos a ver com isso? (além de ter uma oportunidade a menos de ganhar um milhão) O seguinte: se um computador consegue vencer humanos no Jeopardy!, por que não conseguiria fazê-lo no diagnóstico médico, por exemplo? Uma forma de garantir diagnóstico a custo baixo para bilhões de pessoas. Os médicos teriam seu futuro ameaçado com isso? Acredito que não (pelo menos os cirurgiões). Por razões políticas, por muito tempo ainda se exigirá que um humano confirme o diagnóstico.

Para os cientistas da computação, esse feito representa algo mais: novo alento para a tese da IA Forte e de que a IA continua avançando.
Leia a notícia sobre o WATSON, que traduzi livremente do site SingularityHub:

"Em uma prévia em Nova York, o computador IBM de processamento de linguagem pura, WATSON, enfrentou os titãs do Jeopardy: Ken Jennings e Brad Rutter. WATSON venceu. Claro, era uma rápida sessão de disputa, e as partidas reais não irão ao ar até fevereiro, mas parece que WATSON tem uma boa chance de se tornar campeão do mundo no torneio de curiosidades. Alex Trebek não presidiu esta partida preliminar, mas ele estava de prontidão para assistir WATSON fazer de igual para igual com alguns dos principais concorrentes humanos da história do Jeopardy. Ele brincou dizendo que o computador estaria em breve à venda no MercadoLivre. Não é bem assim, Trebek, mas os engenheiros da IBM acreditam que a lei de Moore vai permitir que todos tenham seus próprios Watsons a partir de agora. Considerando o quão bem o computador joga contra Jennings e Rutter, eu tenho certeza que os dois estarão entre os primeiros da fila. Desempenho brilhante Watson no vídeo abaixo."


sábado, 15 de janeiro de 2011

Losing my religion e Síndrome de Tourette


Semana passada postei um vídeo com a música "Losing my Religion". Encontrei agora este outro vídeo em que um portador da síndrome de Tourette canta a mesma música em um karaokê.

Sobre o vídeo em questão,  um internauta postou nos comentários do youtube: "Além do óbvio 'fucka, fucka' engraçado e outros palavrões que tornam este video hilário, esse cara realmente tem uma voz realmente incrível. (...) Polegares pra cima para o homem que faz que gosta apesar da doença."

Esta síndrome atinge uma pessoa em cada 100 e estima-se que em cada escola dos EUA haja pelo menos uma criança acometida. Um de seus efeitos é "o comprometimento psicológico e social dos acometidos, causando impacto na vida dos portadores e familiares." Nas comoventes palavras de uma criança: "Eles me chamam de monstro. Me sinto terrível, como se fosse um demônio." 

Difícil mensurar a vida que estas pessoas levam, seu sofrimento. Para muitas pessoas (sobretudo os familiares) deve ser tentador se voltar para os contos de fadas religiosos, buscar explicações fáceis, reconfortantes e justificadoras para esses problemas na ideia de carma, demônios ou seja lá o que for.  Por que não dar um passo de coragem, encarar este problema com naturalidade e fazer algo por estas pessoas? Buscar  efetivamente o desenvolvimento de terapias médicas para os portadores da síndrome de Tourette, libertando-os desta prisão. 

A meu ver, este único fato é suficiente para alguém perder a religião e a visão supersticiosa do mundo, se tornar um entusiasta da ciência e buscar por aí novas formas de adquirir significado para a vida.

"'Possa tudo o que vive ser libertado do sofrimento', afirmou Gautama Buda. É um sentimento maravilhoso. Infelizmente, só as soluções de alta tecnologia podem erradicar o sofrimento do mundo vivo. A compaixão por si só não basta", disse David Pearce. É preciso se voltar à biotecnologia, bioinformática, IA, nanotecnolgoia e neurociência para isso. Mãos a obra!