Trecho de artigo interessante publicado na Folha, ligando a religiosidade a perfis cognitivos. De um lado, os ateus ultralógicos se aproximam do espectro autista e é desse campo que sai um bom número de grandes físicos e engenheiros. Por sua vez, os ultrarreligiosos (capazes de ver e falar com espíritos) se aproximam da esquizofrenia. Mentes diferentes habitando universos completamente diferentes.
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22/09/2011 - 05h30
Análise: Cérebro humano tem viés religioso 'de fábrica'
HÉLIO SCHWARTSMA
ARTICULISTA DA FOLHA
"Nos últimos 20 anos, psicólogos, neurocientistas, filósofos e sociólogos se puseram esquadrinhar e teorizar sobre a religião, dando origem à nova ciência da fé. A ideia central é que, independentemente do fato de Deus existir ou não, a religião é um fenômeno real, mensurável e com a qual podemos fazer experimentos.
É claro que nada nessa área é muito consensual, mas dessas duas décadas de pesquisas emergiram algumas linhas de explicação que são relativamente bem aceitas. Ao que tudo indica, o cérebro humano vem de fábrica com uma série de vieses cognitivos que tornam a religião um subproduto natural.
Destacam-se aí nossa tendência para reconhecer padrões (indispensável para perceber regularidades) e para detectar agência (muito útil na identificação de presas e predadores). Acrescente-se a isso nossa propensão a inferir estados mentais alheios (essencial para a vida em sociedade) e temos a receita para criar deuses.
De acordo com Michael Shermer, num cálculo aproximado, ao longo dos últimos dez mil anos a humanidade produziu dez mil religiões com cerca de mil deuses.
É claro que as coisas ficam bem mais complicadas quando descemos aos detalhes.
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Esse tipo de fenômeno é mais bem descrito como um gradiente cujos extremos são patológicos. A psicóloga Catherine Caldwell-Harris, por exemplo, liga o estilo cognitivo ultralógico de ateus à síndrome de Asperger, uma forma de autismo que produz um bom número de engenheiros e físicos.
Na outra ponta, Andrea Kuszewski sugere um vínculo entre esquizofrenia e religiosidade. Seguir as intuições reconhecendo padrões e agência mesmo onde não existem é que leva uma pessoa a conversar de igual para igual com uma geladeira ou a discutir com Deus."