Resenha do livro "A Guide to the Good Life: The
Ancient Art of Stoic Joy" escrita por Daniel Markham
publicada originalmente em inglês no site Hacker Books.
Estudiosos medievais cristãos
foram confrontados com um dilema: suas crenças religiosas exigiam
que eles acreditassem que a alma é salva por um relacionamento com
Jesus, mas pelos antigos escritos greco-romanos recém descobertos
parecia óbvio que existiram grandes homens, honrados e virtuosos,
que viveram muitos séculos antes de Jesus ter nascido. Como poderiam
essas pessoas de alto calibre terem vivido assim apesar de
acreditarem em coisas tão diferentes?
Em um interessante hack
religioso, os teólogos decidiram que tais pessoas foram
"naturalmente salvas", isto é, observando e vivendo na
natureza de uma forma nobre e perspicaz, eles alcançaram o objetivo
principal da salvação (pelo menos naquilo com que os cristãos se
preocupavam).
Esta é uma realização cultural
significativa - - ter uma filosofia de vida e visão de mundo
completamente diferente endossando uma maneira nova e estranha de
viver -- e isso nunca foi reproduzido da mesma maneira desde então.
Quando os escritores gregos e romanos foram descobertos (ou talvez
"relembrados"), eles mudaram completamente a face da
civilização ocidental. Tudo que você vê ao seu redor é moldado
por isso: a cidade moderna, nosso modo de vida cosmopolita, o valor
da virtude e do raciocínio.
Ler sobre esses cristãos, me
deixou com um duplo problema: como pode o simples fato de estudar os
antigos causar um tal profundo impacto sobre as pessoas? E isso não
foi só com os cristãos medievais. Em todos os lugares em que eu li,
pessoas famosas que estudaram os gregos e romanos descobriram que
isso alterou profundamente suas vidas. O que foi que fez de George
Washington uma pessoa humilde, mesmo que fosse para todos os efeitos,
um novo rei? Quais são os valores que Benjamin Franklin e Thomas
Jefferson tinham que me faltam? Catão era um famoso exemplo disso.
Ele era conhecido como um "verdadeiro romano", um romano
que cultivou o espírito do império. Ao longo dos séculos muitas
pessoas aparecem com ideias sobre por que Roma caiu, mas muitos que
viveram naquela época sentiam que quanto mais os romanos se
afastavam dos valores de Catão, mais o império estava condenado.
Sou um hacker de corpo e mente.
Sempre considerei que mexer com a maneira como meu corpo e mente
funcionam é um esforço para tornar minha vida melhor: mais
produtivo, perspicaz, mais alegre, mais tranquilo. Para mim, hackear
sua mente e corpo tem um resultado muito mais benéfico do que
simplesmente hackear alguma tecnologia. A tecnologia muda, mas você
está preso ao seu corpo e sua mente. Em busca desse objetivo eu
absorvi um monte de coisas.. Mas de tudo quanto li, palestras e
vídeos a que assisti, obras técnicas que li, nunca fui capaz de
descobrir exatamente como o estudo da vida dos gregos e romanos
poderia ter um efeito transformador sobre a vida de alguém. Suas
idéias, com certeza, eram estupendamente incríveis, mas isso seria
capaz de produzir mudança na vida pessoal? Eu simplesmente não
entendia.
Até agora.
Eu também sou meio viciado em
livros e comentários na internet. Adoro ouvir as pessoas
recomendando livros uns aos outros. Então, quando li os comentários
de um um casal no HackerNews falando sobre o livro “A Guide to the
Good Life: The Ancient Art of Stoic Joy ("Um guia para a vida
boa: a antiga arte da alegria estóica"), sobre o impacto
tremendo que este livro estava trazendo em suas vidas, percebi
imediatamente que eu tinha que pegar esse livro e lê-lo. Isso até
eu contar a ideia com meus amigos.
"Ah, com certeza", um
tirador de sarro, disse sarcasticamente, "nada soa tão ‘alegre’
quanto estoicismo, certo?"
Ai.
Outro foi mais claro.
"Se os estóicos tiveram
ideias tão grandes, por que todos eles se acabaram?
Ambas são boas questões e o
autor teria que endereçar a elas boas respostas se o livro valesse a
pena o dinheiro que paguei.
O livro caiu em minhas mãos em
uma quarta-feira e consumi um par de dias nele. Uma das primeiras
coisas que aprendi foi que a palavra "estóico" mudou de
significado ao longo dos séculos: o que nós pensamos como
estoicismo tem pouco a ver com o que os romanos pensavam desta
palavra. Nós pensamos no estoicismo como algo brando, chato, sem
resposta. Os romanos tinham várias escolas de filosofia e o
estoicismo era apenas mais uma maneira de conduzir a própria vida.
Hoje, se você perguntar a um
filósofo como levar uma vida boa, é provável que você entre em
uma discussão longa e chata sobre linguística e o significado da
linguagem. Naquela época, os romanos compreenderam que a filosofia
estava envolvida com as grandes questões. Se você me perguntasse,
eu diria que em algum momento do passado os filósofos perderam o
objetivo de seus empregos.
Várias vezes durante a leitura
fiquei espantado com a visão que os estóicos tiveram. Muitas vezes
eu disse a mim mesmo: "Se eu tivesse lido isso quando eu era
adolescente! Quão melhor minha vida teria sido. Quão melhor eu
teria tratado tal e tal situação". Irvine [o autor] conseguiu
não só responder minhas indagações originais, como também
forneceu um vislumbre de qual era a grande questão.
Eu não vou entrar em muitos
detalhes -- eu não sou um especialista e não quero turvar o pouco
das águas que absorvi. Estou feliz em dizer que amei a descrição
do autor do estoicismo como o "Zen Budismo para pessoas
analíticas", que descreve o fato de que o estoicismo não é
uma religião, apenas um conjunto de ferramentas para levar uma vida
melhor. Ele também descreve a finalidade do estoicismo: ter uma vida
alegre, feliz, cheia de diversão através da aprendizagem da arte de
viver.
Sou um crente convicto de que há
vários assuntos que são críticos para o funcionamento de uma
sociedade moderna que não são ensinados às crianças: economia,
cálculo, estatística, escrita criativa, vida empresarial,
negociação e agora eu adiciono a essa lista o estoicismo.
Será que o livro vai ter esse
enorme impacto na minha vida? Eu não sei. Tenho minhas dúvidas. Aos
45 anos, provavelmente é muito difícil mudar de rumo. Ao longo dos
anos eu li um monte de livros para me levantar e tenho sido animado
com o meu quinhão deles. Como parte dessa experiência, eu me tornei
uma pessoa muito cínica e estou sempre à procura de modismos. Acho
que para uma mudança tão grandiosa tão tarde na vida seria
necessário um instrutor e um monte de tempo. Mas, quem sabe? Estou
aguardando ansiosamente para integrar as práticas estóicas que
estou aprendendo ao meu estilo de vida. Como muitas coisas, os
conceitos parecem bastante fáceis, só que colocá-los em prática
pode ser realmente muito difícil. Refaça essa pergunta para mim
daqui a dez anos. Talvez eu tenha uma resposta melhor.
Mas a melhor, a mais
impressionante parte deste livro, sem sombra de dúvida, consistiu em
ler a excitante e clara descrição que William Irvine constrói para
nos fornecer um vislumbre do que seria um romano “verdadeiro”.
Ele realmente acha que Catão realmente entendia o que significava
ser um estóico. Eu ganhei um enorme insight
sobre a forma
como essas pessoas viviam -- e não apenas suas idéias -- e como o
que eles aprenderam pode ser de impacto imediato para mim hoje,
agora. Quero aprender mais.
Durante a década passada, estive
trabalhando duro em minha pilha de crenças. Existencialismo,
agnosticismo fundamentalista e agora o estoicismo. Acho que o
estoicismo se encaixa muito bem aos outros dois, dando-lhes
vivacidade que, sozinhos, não possuem.
Grande
história, grandes ideias, grandes insights
sobre a melhor forma de viver e uma agradável leitura Como não
gostar disso?
Livro: A Guide to the Good Life: The
Ancient Art of Stoic Joy
Autor: William B. Irvine
Ano: 2008
Ano: 2008
Preço: R$48,00
Onde comprar: Amazon, Livraria Cultura etc.
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirEu primeiro gostaria de recomendar o livro que estou aos poucos lendo, sobre o generalismo, um conceito que vai mudar toda nossa sociedade!
O nome do livro é: "Sua vida é uma porcaria. E a culpa é minha". Nacional e bem novo.
Não vou entrar em detalhes, mas pelo índice da para ter uma prévia... depois de ver a primeira parte e como ele evolui o conceito da torre de Maslow (acrescentando Manfred Max-Nee), com uma definição de motivação e razão muito nítida. Eu Recomendo mesmo!
Agora gostaria de saber melhor sobre o que aborda o estoicismo, é um conceito sobre como ser feliz de forma independente? quero dizer que tipo de mudanças ele propõem?
Adorei, cara. Você me deixou com vontade de lê-lo. Recomendo "o homem que nasceu póstumo" do Mário Ferreira dos Santos, dois volumes incríveis.
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